Arquivo do mês: outubro 2013

A CORRUPÇÃO, O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E O PSDB.

Os Procuradores da República foram contra a PEC 37, aquela que disciplinava o Ministério Público em investigações.

Conseguiram que a Globo (que deve mais de um bilhão de reais  de imposto de renda), entrasse na luta deles.

Inflamaram os manifestantes para que levassem para as ruas sua bandeira.

O Ministério Público não podia ser impedido de investigar.
Isso abriria as portas da corrupção. E regular o Ministério Público em investigações só ajudaria os corruptos.

Barrar investigações pelo Ministério Público só alavancaria a corrupção desenfreada pelos que assaltam os cofres públicos.

A lógica mandava que a iniciativa de barrar as investigações, só poderia ser dos Petistas, metidos até o pescoço com o mensalão, e queriam mais liberdade para avançar na corrupção.

A reivindicação dos Procuradores obteve êxito. A PEC 37 foi derrotada. Os procuradores continuariam a investigar, sobretudo a corrupção.

Até que vieram os casos de corrupção no PSDB, principalmente o de São Paulo, com as licitações do metrô e trens, envolvendo as grandes concorrentes: a empresa francesa  Alstom, Siemens e outras.

A investigação da Alstom iniciou na justiça Suíça. A Siemens já havia feito acordo com a justiça  brasileira com a delação premiada.

No desenrolar do processo, na justiça Suíça, esta precisava de uma investigação da justiça brasileira sobre os manda-chuvas do PSDB.

Quatro figurões, dentre eles, um do partido deveriam ser investigados, e o aprofundamento das investigações chegariam, com certeza, aos cabeças do partido em São Paulo, uma vez que já havia indícios mais que sólidos do envolvimento de governadores paulistas no caso de corrupção.

A justiça Suíça solicitou essa investigação ao Brasil, que ao final seria remetida de volta a fim de fechar a parte acusatória do processo. Então os Suíços pediram aos procuradores brasileiros que procedessem a investigação. O pedido chegou ao Brasil em fevereiro de 2011. Portanto há, precisamente, 2 anos de 8 meses.

Dentre os que deveriam sofrer investigações pelos Procuradores brasileiros estavam: João Roberto Zaniboni, um ex-diretor da estatal CPTM, acusado de receber R$ 1.840.000,00. A Suíça pediu que se fizesse uma busca na casa dele. Outros a ser investigados, seriam consultores responsáveis por recebimento e transferência de propinas aos cabeças do partido: Artur Teixeira, Sérgio Teixeira e José Amaro Pinto Ramos, todos envolvidos na propina das multinacionais.

De fevereiro de 2011 até anteontem o pedido de investigação dormiu nas gavetas e pastas da Procuradoria Geral da República. Cansada de esperar pela investigação, a justiça Suíça resolveu arquivar o caso.

Somente depois que soube que a Suíça arquivara o processo,foi que o Ministério Publico Federal resolveu procurar o pedido de investigação.

Segundo o “Procurador da República Rodrigo de Grandis, responsável pelas investigações sobre os negócios da Alstom no Brasil, houve uma "falha administrativa": o pedido da Suíça foi arquivado numa pasta errada e isso só foi descoberto anteontem”.

O Ministério Público brasileiro brigou tanto para ter o direito de fazer investigação, e na hora de pegar corruptos, falhou. Não conseguiu cumprir aquilo porque tanto brigou.

Talvez porque os corruptos fossem do partido que ainda não teve nenhuma de suas denúncias investigadas pelos Procuradores da República, o PSDB.

ATÉ TU, DOM EUGÊNIO SALES?

Repassamos para os amigos do Blog Martins Andrade e Você, matéria publicada no Blog Tijolaço, de Miguel do Rosário.

À medida que documentos são abertos, observa-se o envolvimento de setores da sociedade, na ditadura militar que perdurou no Brasil por mais de 20 anos, a partir de de 1964.

A igreja católica e alguns de seus membros, que pensava-se estar lutando, não pelo sistema que alguns presos políticos defendiam, mas pela parte humana do tratamento que os ditadores dispensavam contra aqueles cidadãos, estava mascarando e ocultando, senão defendendo as injúrias psicológicas e os maltratos que os presos sofriam. 

Os documentos estão vindo à tona.

E estão agindo como verdadeiros iconoclastas de figuras de escol da sociedade e igreja do Brasil ditatorial.

Martins Andrade.

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A Igreja Católica e o golpe

20 de outubro de 2013 | 04:36

Parece até um filme de Glauber Rocha, mas é a realidade. Ou melhor, é um filme de Glauber Rocha. As recentes provas de que Igreja, latifúndio, udenistas de classe média, militares e, claro, barões da mídia, uniram-se em prol do golpe de Estado, ajuda a explicar a força do regime de exceção.

Semana passada, divulgamos o vídeo do Instituto João Goulart onde um militar hoje aposentado afirma, com todas as letras, que o general Amaury Kruel traiu Jango por seis malas de dólares.

A própria Globo, depois de apanhar nas ruas, já admitiu que foi golpista.

A informação, via Carta Capital, de que uma importante autoridade do Vaticano, o então arcebispo Dom Eugênio Salles, prestou serviços à ditadura mostra o quão perigoso e nocivo é misturar religião e política.

Ambos devem estar bem separados, como manda o espírito republicano laico de nossa Constituição (apesar da citação de Deus no preâmbulo).

*

Documentos inéditos provam a colaboração do primaz com a ditadura

Por Marsílea Gombata

Em 1976, sob a égide do Ato Institucional nº 5 e cercada por denúncias de torturas, prisões, desaparecimentos e mortes de presos políticos, como a do jornalista Vladimir Herzog, a ditadura começava a ruir em meio à transição “lenta, gradual e segura” anunciada pelo general Ernesto Geisel. A Igreja Católica, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cobrava do governo informações e esclarecimentos sobre os abusos e condenava o caráter arbitrário do regime militar.

Acuados, os generais buscavam minar o ímpeto das lideranças católicas dentro da própria CNBB. Contaram, para isso, com uma das figuras mais influentes do clero: o cardeal e então arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eugênio Salles. É o que revelam documentos oficiais obtidos por CartaCapital junto ao Arquivo Nacional em Brasília. Em relatório de 14 de março de 1976, o I Exército do Rio de Janeiro relata ao Serviço Nacional de Informações (SNI) como o cardeal conseguiu conter os esforços da própria CNBB de lançar uma campanha contra a repressão. Ao se referir ao “clero católico”, o documento dizia: “A CNBB pretendia fazer declarações sobre as atuais prisões, envolvendo elementos do PCB, no RJ/RJ. Dom Eugênio Salles conseguiu esvaziar o movimento da CNBB. Irah a Roma ET, no seu retorno ao país, farah declarações favoráveis”.

A evidência fica clara em outro documento do SNI, também parte do acervo do Arquivo Nacional. A carta da CNBB, endereçada ao general Ernesto Geisel em 24 de setembro de 1975, pedia esclarecimentos sobre o paradeiro de presos políticos. Preocupada em obter esclarecimentos “alviçareiros ou trágicos, mas definitivos” sobre casos de militantes desaparecidos, a entidade dizia ao então ditador: “Permanece, no entanto, um determinado número de desaparecimentos para os quais ainda não se obteve informações satisfatórias. (…) Até esta data, no entanto, os esclarecimentos não foram satisfatórios. Isto é motivo de desespero para as famílias dos desaparecidos e de angústia para nós pastores”. O então presidente da CNBB, Aloísio Lorscheider, termina a carta com uma súplica: “Gostaríamos de receber melhores esclarecimentos, bem como qualquer retificação, sobre imprecisão dos dados ou fatos aí contidos”.

Diante da pressão, os militares usavam dom Eugênio – arcebispo primaz do Brasil desde 1968 – como uma espécie de garoto de recados, de acordo com o documento do I Exército do Rio de Janeiro ao SNI, de 1976. À época da prisão de jornalistas ligados ao PCB, como Oscar Maurício de Lima Azêdo e Luiz Paulo Machado, foram coletados depoimentos de outros profissionais de imprensa, como Fichel Davit Chargel e Ancelmo Gois, por meio dos quais seriam reveladas operações do PCB no Rio. Com tais informações nas mãos, os militares pressionaram o fotógrafo Luiz Paulo Machado para que redigisse uma carta de repúdio ao comunismo, a fim de demonstrar arrependimento pela militância. A existência da carta de próprio punho, ressalta o documento oficial, era para ser mantida sob “alta compartimentação” (sigilo).

Apesar da carta escrita na madrugada de 13 para 14 de março, os militares queriam mais. Pediram, como relata o documento da Operação Grande-Rio – que visava “buscar intimidar ou desencorajar livre manifestação subversiva VG especialmente por meio de prisões de subversivos selecionadas por suas atuações destacadas” –, que dom Eugênio conversasse com a mulher do fotógrafo, Elaine Cintra Machado, para sugerir procurar o comandante do I Exército e obter informações sobre o detido. Era de extrema importância, no entanto, que o arcebispo deixasse transparecer o mínimo sobre a relação próxima que tinha com os militares. “Dom Eugênio Salles, por solicitação do CMT do I EX, fazendo transparecer ser iniciativa sua, aconselhou a Elaine que procurasse o CMT do I EX, dando a crer, também que soh o Exército poderia cooperar com ela.”

O objetivo seria pressioná-la, a fim de conseguir “o apoio ET a cooperação de Elaine”, como sugere o relatório sobre os procedimentos a serem tomados com a militante denunciada pelo marido como “responsável pelo movimento financeiro do PCB, no RJ”. A intenção era “desencadear de imediato uma ação psicológica sobre a esposa de Luiz Paulo Machado, Elaine Cintra Machado, com base na “carta-repúdio”.

(…)

Discurso. Líder ecumênico metodista e coordenador do Grupo de Trabalho da Comissão Nacional da Verdade que investiga o papel das igrejas durante a ditadura, Anivaldo Padilha reconhece que a figura de dom Eugênio é controversa: além de ter atuado a mando dos militares, chegou a negar ajuda a militantes, inclusive os católicos. “Dos pronunciamentos dele, não me lembro de nenhum explicitamente apoiando a ditadura, mas lembro de muitos outros criticando setores de oposição, especialmente a esquerda.”

Da mesma visão compartilha dom Angélico, bispo auxiliar do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo cuja trajetória foi marcada pela proteção aos militantes e que, inclusive, mais de uma vez esteve com o então ministro-chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, para lhe entregar listas com nomes de desaparecidos. “Do que conheço a respeito da atuação do cardeal dom Eugênio, a não ser em casos isolados, ele realmente não se confrontou com a ditadura”, avalia.

Não são poucos os casos nos quais dom Eugênio foi chamado a ajudar e a fazer frente ao regime militar e não deu ouvidos. Um dos mais famosos é o da estilista Zuzu Angel, cujo filho Stuart foi torturado e morto pelo Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Ao procurar dom Eugênio, bateu com a cara na porta. Sua filha, a colunista social Hildegard Angel, em mais de uma ocasião disse que o cardeal “fechou os olhos às maldades cometidas durante a ditadura, fechando seus ouvidos e os portões do Sumaré aos familiares dos jovens ditos ‘subversivos’ que lá iam levar suas súplicas, como fez com minha mãe”.

A omissão, o silêncio e a compra das versões dadas pelos militares para acobertar torturas e mortes nas prisões por dom Eugênio acabavam sendo respaldados pela mídia, com quem o cardeal mantinha ótimas relações – vale lembrar que ele escrevia artigos para O Globo e Jornal do Brasil com certa regularidade.

(…)

Assessor de imprensa de dom Eugênio por mais de 40 anos, Adionel Carlos da Cunha discorda. “Desconheço completamente qualquer ação do dom Eugênio nesse sentido (de colaboração com os militares). Pelo contrário, a ação dele foi de conseguir salvar mais de 5 mil militantes”, conta.

Trajetória. Um dos nomes cogitados para suceder ao papa João Paulo I, em 1978, o arcebispo nascido em Acari, no Rio Grande do Norte, em 8 de novembro de 1920, foi próximo do Vaticano como nenhum outro cardeal brasileiro. Ao longo de seus quase 60 anos de episcopado e mais de 40 de cardinalato, nomeou 22 bispos e 215 padres. Sempre foi um ferrenho opositor à Teologia da Libertação.

Para dom Angélico, a posição de dom Eugênio era clara: “Não era uma postura dúbia. Basta analisar historicamente”, disse, ao lembrar que a ditadura foi construída pelas “classes conservadoras, os grandes interesses econômicos e o apoio da CIA”. “Vivíamos em meio à polarização indevida entre o mundo livre e o mundo comunista. E muitos na Igreja temiam essa onda comunista.”

Por: Miguel do Rosário

DINHEIRO COM PRAZO DE VALIDADE

A justiça acabou com o prazo de validade de créditos na telefonia celular.

Para espanto da população brasileira, foi a própria ANATEL quem recorreu e essa imoralidade continua a existir.

Acabo de receber um aviso da TIM, que meu saldo vai se expirar daqui a cinco dias.

Somos o único pais e consumidores do mundo em que seu dinheiro virou remédio, isto é, tem prazo de validade.

Acho que já está na hora dos cidadãos irem às ruas e exigir o fim dessa excrescência chamada ANATEL. 

Temos que copiar este post e espalhar Brasil a fora.

O fato mais interessante, e que mostra o quanto o cidadão está abandonado, é que nem o Ministério Público se interessa por essa causa.

O Ministério Publico é o defensor do cidadão, mas parece que no Brasil, o empenho desse órgão está mais interessado em correr atrás dos quatro “Ps”  e que virou piada: preto, pobre, puta e agora, petistas.

Temos a telefonia mais cara do Globo, e por extensão, essa telefonia transforma nosso parco recurso, nosso sacrificado dinheiro em remédio.

No Brasil e para as empresas telefônicas, NOSSO DINHEIRO É IGUAL A REMÉDIO. E com o apoio da ANATEL, TEM PRAZO DE VALIDADE.

Se a ANATEL não existisse, não faria falta a ninguém.

COMUNISTAS NA FINLÂNDIA

Sem ter escolas privadas, com todos os custos, desde o deslocamento até a alimentação, material escolar, tudo por conta do Estado.

Se fosse no Brasil ou América Latina,  a grande mídia já teria rotulado esse modelo de Chavista, Comunista, ou Populista.

Já imaginou um governo Latino americano projetando e realizando tudo isso em prol da educação de seus concidadãos?

Aluno sendo transportado em coletivos sem pagar passagem? Isso é loucura de Comunista, quer quer acabar com a iniciativa privada!

Todos o período de estudo feito em escolas públicas, de graça desde o jardim de infância até a universidade? Coisa de vagabundo, quadrilheiro tentando ser populista às custas do enterro das escolas privadas. Quer dizer: governo populistas se beneficiando com o fim da iniciativa privada na educação!

Entretanto, isso ocorre na Finlândia, o sonho de bem estar de qualquer população do mundo.

Conheça mais. Fique por dentro do modelo que os donos da mídia nacional gostariam de ter seus filhos estudando.

Lá, na Finlândia, pode.

E não é considerado coisa de comunistas, de populista nem de chavista. 

Martins Andrade.

 

Leia e conheça.

“O modelo educacional da Finlândia

seg, 07/10/2013 – 19:30 – Atualizado em 07/10/2013 – 21:57

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Finlândia

Sugerido por Sônia Aranha

Artigo de Philippe Descamp que saiu no Le Monde Diplomatique Brasil (aqui) , cujo título é O modelo finlândes: unanimidade, que reproduzo abaixo:

Do Le Monde Diplomatique

O modelo finlândes: unanimidade

O sistema de ensino na Finlândia se consolida há anos como um modelo de igualdade no ensino. A condição é atestada pelos excelentes resultados que o país escandinavo apresenta nas pesquisas

por Philippe Descamps
Paraentrar na escola primária de Rauma, na costa do Golfo de Bótnia, na Finlândia, não é preciso atravessar portões nem muros. Simplesmente se passa por uma garagem grande com uma bicicleta e jogos. Do ginásio à sala de música, tudo parece ter sido projetado para acolher as crianças. Em 45 minutos de curso, a professora de inglês encadeia cinco atividades diferentes. Ela capta a atenção já nos primeiros segundos, graças a uma bola que circula no mesmo compasso que a palavra. Um dispositivo que não é desconhecido nas salas de aula de outros países, mas, com uma média de 12,4 jovens para um professor finlandês – ou seja, um dos melhores índices para o ensino primário na Europa –, ele parece particularmente eficaz aqui.

Em meados de agosto de 2012, Fanny Soleilhavoup e Fabienne Moisy acompanharam os filhos em um segundo retorno a esse país. Professoras francesas com disponibilidade para acompanhar os maridos, elas não imaginavam que a escolha que fizeram em favor da escola local, em vez do estabelecimento francês à sua disposição, mexeria com sua visão de educação. “Meus três filhos estão se transformando em pessoas de bem”, acrescenta Claire Herpin, decidida a permanecer longe da França. “Nós respeitamos suas diferenças. Eles respeitam os outros. Os professores sabem como incentivá-los e como reforçar o que há de melhor neles.” Dislexia, simples perda de interesse ou precocidade, essas famílias estavam diante de situações até comuns, mas que o sistema francês dificilmente levaria em consideração.

Alguns vão achar difícil acreditar no que elas descrevem: uma escola sem tensão, sem competição entre os alunos, sem concorrência entre as instituições, sem inspetores, sem repetência, até mesmo sem nota nos primeiros anos, e que teria os melhores resultados do mundo.

As pesquisas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) suscitam grande preocupação na Alemanha e no Reino Unido, enquanto na França e nos Estados Unidos, mais bem classificados, elas são pouco comentadas. Apesar de seus investimentos na educação, esses grandes países aparecem apenas na média da OCDE para as capacidades de jovens de 15 anos em compreensão da escrita, matemática e ciências.1 Além do rigor metodológico que visa descartar qualquer viés cultural, essas avaliações têm a vantagem de não tratar do aprendizado de um programa, mas de um conjunto de competências úteis para entender o mundo e resolver problemas nos contextos próximos da vida cotidiana.

Essas investigações revelaram Helsinque como um modelo inesperado. No resultado de 2009, que levava em conta 65 países, assim como nos três anteriores (2000, 2003 e 2006), a Finlândia aparece no grupo dos melhores desempenhos globais, como a Coreia do Sul e muitas cidades asiáticas parceiras da OCDE (Xangai, Hong Kong e Cingapura). É também o país (com a Coreia do Sul) cujos resultados são os mais homogêneos e no qual as correlações entre o meio socioeconômico e os desempenhos escolares parecem as mais fracas. Noventa e três por cento dos jovens finlandeses concluem o ensino médio, contra apenas 80% em média nos países ocidentais.2 O país se destaca, é verdade, por um dos mais baixos níveis de desigualdade social da OCDE.

Os resultados do Pisa atraíram um novo tipo de turista. Após uma visita em agosto de 2011, o então ministro francês da Educação Nacional, Luc Chatel, explicou: “Há uma série de receitas que vi funcionar aqui, que podem ser transpostas”, sobretudo “a grande autonomia dada às escolas”.3 Um ano depois, a revista britânica Socialist Review elogiava um sistema “desprovido de avaliações” e no qual “cada criança recebe um almoço saudável ao meio-dia”.4 Quer venham da direita liberal francesa ou do trotskismo inglês, cada observador estrangeiro vem fazer sua feira, em busca dessa ou daquela inovação que, isolada do resto, validará seu próprio projeto.

Na maioria das vezes, a imprensa internacional ignora as condições específicas da gênese do “modelo”, ao qual várias obras cativantes foram consagradas.5 No entanto, aqui, “descentralização” não é sinônimo de territórios em competição; falar de “envolvimento” dos professores não se resume à vontade de aumentar suas horas de “presença” nas escolas; e promover a “moderação” das despesas não disfarça o desejo de favorecer prestadores privados. “Esqueçam o Pisa!”, dispara Jukka Sarjala, um dos arquitetos da reforma escolar na década de 1970. “É claro que estamos orgulhosos desse reconhecimento do nosso trabalho. Mas temos de olhar para nosso sistema como um todo, e não bicar esse ou aquele aspecto.”
O sucesso finlandês tem suas raízes na tradição política dos países nórdicos, ligada às realizações concretas do Estado de bem-estar social, mais do que a uma doutrina. Instado a revelar a elogiada receita pedagógica em uma mesa-redonda da rede de televisão norte-americana PBS, em 10 de dezembro de 2010, o professor Pasi Sahlberg respondeu com um amplo sorriso: “Você sabe, entre nós a escola é gratuita para todos, desde o curso preparatório até a universidade!”. Com base nesses pressupostos, é difícil levar adiante comparações com o modelo dos Estados Unidos…

Na Finlândia, a gratuidade não se aplica apenas ao ensino. Até os 16 anos, todos os suprimentos são bancados pela comunidade, bem como o apoio escolar, a cantina, as despesas de saúde e o transporte para a instituição. O financiamento vem principalmente dos 336 municípios, mas o Estado central harmoniza a distribuição dos recursos. Se por um lado ele participa com apenas 1% do orçamento da escola no município mais rico, Espoo (perto de Helsinque), por outro, ele garante 33% dos recursos na média dos municípios,6 chegando a até 60% nas comunidades pobres. O governo também desestimula a abertura de escolas privadas. Elas praticamente desapareceram na década de 1970 (menos de 2% dos efetivos, contra 17% na França), com exceção de escolas associativas de pedagogias alternativas, do tipo Steiner ou Freinet.

Esse serviço público unificado não se mostra particularmente caro, muito pelo contrário. Em paridade de poder aquisitivo, a Finlândia gasta menos dinheiro por aluno no ensino primário e secundário do que a média dos países ocidentais, e muito menos do que os Estados Unidos ou o Reino Unido.7 A ênfase foi colocada na qualidade da supervisão, no número e na formação dos professores: a profissão do magistério tornou-se altamente respeitada e muito cobiçada, ainda que exija uma longa formação (pelo menos cinco anos de universidade, em geral mais) e que os salários acompanhem mais ou menos a média ocidental:8 significativamente mais altos do que os salários franceses no início de carreira (36% mais no fundamental, 27% no médio), eles se aproximam no fim da carreira. Apenas um candidato a professor em dez atinge seu objetivo. Também se espera dos docentes um envolvimento tão forte que não é incomum que alguns confiem seu número de telefone ou endereço de e-mail aos pais. Uma boa parte da formação (no mínimo um ano) não é dedicada ao conteúdo a ser transmitido, mas à pedagogia: a maneira de transmitir.

Ameaça no horizonte

Enquanto o modelo internacional se baseia em indicadores de desempenho, auditorias e rankings, os pedagogos finlandeses defendem outro uso das avaliações. Elas devem continuar a ser uma ferramenta para ajuste dos meios ou dos métodos a serviço do desenvolvimento de professores e crianças, nunca uma ferramenta de controle ou de competição. É por isso que as avaliações são realizadas por amostragem, e não em nível nacional. Cada um fica sabendo de seus resultados, mas não os de outras escolas. Vários municípios também lutaram contra os jornais que queriam publicar as classificações. E, quando os tribunais deram perda de causa à administração, boa parte da imprensa preferiu guardar silêncio.

“Na década de 1990, encorajou-se a competição entre as escolas, e um conservador eleito de Helsinque chegou a convidá-las a fazer publicidade. Hoje entendemos que foi um erro”, explica Susse Huhta, professor de finlandês em Helsinque. Com a abolição da obrigatoriedade de frequentar a escola de seu bairro, a busca pelas escolas mais conceituadas, até então marginal, tornou-se um fenômeno importante na capital, onde 30% das crianças no oitavo ano (13 anos) não frequentam o estabelecimento da sua região. Isso só fez provocar um rápido crescimento das desigualdades sociais na Finlândia, segundo Tuomas Kurttila, diretor da Associação de Pais: “Nossa política educacional corre o risco de se tornar uma simples vitrine, enquanto nossas políticas sociais se degradam. Os sucessos de hoje foram construídos nas décadas de 1970 e 1980. O sucesso de amanhã se constrói hoje. Ainda há muitas crianças que não vão além da escolaridade obrigatória. Estou otimista, mas temos de permanecer vigilantes diante do crescimento das disparidades”. “Pedimos à escola que responda a todos os problemas da sociedade, algo que ela dificilmente pode fazer”, acrescenta Petri Pohjonen, vice-diretor do Escritório Nacional de Educação.

Depois de ter dirigido por um longo tempo uma escola e em seguida o departamento de ensino da cidade de Vantaa, vizinha a Helsinque, Eero Väätäinen resume um sentimento generalizado entre os professores finlandeses: “Devemos ter em mente que as crianças não estão na escola para passar nas provas. Elas vêm aprender a vida, encontrar seu próprio caminho. É possível medir a vida?”. No país europeu mais bem colocado nos rankings internacionais, as pessoas veem com muita desconfiança… os rankings.

Philippe Descamps
Jornalista

1 OCDE (2011), Résultats du Pisa 2009 [Resultados do Pisa 2009], em seis volumes, Edição OCDE, Paris.
2 Estatística da OCDE, 2010.
3 “En visite en Finlande, Chatel prépare la rentrée et 2012” [Em visita à Finlândia, Chatel prepara o retorno em 2012], Les Échos, Paris, 19 ago. 2011.
4 Terry Wrigley, “Growing up in Goveland: how politicians are wrecking schools” [Crescer em Goveland: como os políticos estão destruindo escolas], Socialist Review, Londres, jul.-ago. 2012.
5 Paul Robert, La Finlande: un modèle éducatif pour la France? Les secrets de la réussite [Finlândia: um modelo educacional para a França? Os segredos do sucesso], ESF Editor, 2008. Pasi Sahlberg, Finnish lessons: what can the world learn from educational change in Finland? [Lições finlandesas: o que o mundo pode aprender com a mudança educacional na Finlândia?], Teachers College Press, 2011. Hannele Niemi, Auli Toom e Arto Kallioniemi, Miracle of education, the principles and practices of teaching and learning in Finnish schools [Milagre da educação: os princípios e práticas do ensino e do aprendizado nas escolas finlandesas], Sense Publishers, 2012.
6 Dados do Escritório Nacional de Educação, agência independente encarregada do acompanhamento dos programas e da avaliação do ensino médio e fundamental.
7 OCDE, Regards sur l’éducation [Olhares sobre a educação], 2010.
8 Idem.