Seria ótimo que parte daqueles que tanto reclamam de muitas coisas nesse país, e que pouco contribuem na satisfação geral de milhões de brasileiros, dessem uma lida nesse artigo de Fernando Brito, do Blog Tijolaço.
Fernando Brito, ao contrário de que mitos pensam, não é um jornalista qualquer, publicando suas opiniões nos Blogs, que os donos de jornais condenam.
Na verdade, é tão ou mais jornalista que outros, que seguem ao pé da letra as orientações emanadas dos patrões.
E Mino Carta já dizia: “alguns jornalistas são piores que o patrão”.
Jornalista blogueiro não tem patrão. Suas opiniões, seus escritos, são mais ou menos os que o levaram para o jornalismo: o livre pensar.
A postagem de Fernando Brito discorre sobre o público que está presente nos estádios, assistindo a Copa do Mundo.
Compare como é interessante o que eles cobravam e onde eles estão hoje, e a que ambiente frequentam.
Foram os mesmo que apuparam e escracharam a presidente de seu país, e nas horas vagas, fazem colagens de fotos e frases contra o governo e autoridades constituidas para postagens nos sites da internet.
Esquecem que o mundo ainda continua numa interminavel crise econômica, que começou em 2008 e não tem uma previsaõ para acabar. E o Brasil é um dos poucos países que mantém uma atividade econômica regular, com seu comercio interno ainda a todo vapor, aquecido pelos programas governamentais.
Os empresários ainda estão com superavit em seus negócios. Traduzindo: estão cada vez mais lucrando com eles. Ganhando dinheiro, muito dinheiro.
Quem fez coro e mandou nossa presidente tomar no c.. não foi nenhum Zé da Silva, não foi nenhum pedreiro, conhecido como Raimundo, ou um Ribamar da vida.
Eles estavam em casa, frente ao televisor, torcendo, vibrando com a expectativa de sucesso de nossa seleção.
No estádio, em coro, gritando a plenos pulmões, em camarotes vips, estavam uma parcela de seus patrões, aqueles que ainda estão ganhando dinheiro, muito dinheiro, com seus filhos, suas sobrinhas e seus amigos…
Leiam a boa postagem de Fernando Brito, de seu Blog Tijolaço.
Estádio de Copa é de elite. Mas nossa elite é capaz de entender a quem deve ser o que é?
29 de junho de 2014 | 10:45 Autor: Fernando Brito
A enquete realizada pela Folha, ontem, e publicada na edição de hoje do jornal, faz um retrato do que significa o tal “padrão Fifa”.
Ou do que tem sido o mundo.
Tudo é ótimo, fantástico, maravilhoso, sensacional.
Para poucos.
Os 60 por cento com renda superior a dez salários mínimos no estádio são apenas 3% dos brasileiros na “vida real”. Quase a metade deles, os que ganham acima de 20 salários-mínimos, não chegam a 1% dos brasileiros. Os números estão ao lado, se você duvidar.
Os negros, mulatos, os pardos só são maioria, entre os de camisa amarela, dentro das quatro linhas.
Nada mais do improviso, das arquibancadas de concreto, da multidão se espremendo numa festa de gritos e suores, nem do picolé que vinha rolando de mão em mão degraus acima ou abaixo, enquanto os trocados seguiam o caminho inverso (quando não era o pobre do sorveteiro quem vinha junto) daquele Mineirão de 150 mil lugares ou do Maracanã de 200 mil almas em transe.
Por maior que seja a saudade daqueles tempos que eu ainda tive a sorte de viver, o Brasil tornou-se uma sociedade de massas gigantescas e seria simples banzo pretender que tudo fosse como era.
Até porque aquele “Maracanã” inclusivo era mais uma atitude mental do que real, porque o Brasil era, muito menos que hoje, um país de pouca ou nenhuma oportunidade para a imensa maioria, ainda que muitos tenham conseguido ascender nos anos 40 e 50, embora se tenham tomado, em 64, as devidas providências contra a petulância da patuleia de querer ter parte do seu país, mesmo na antiga geral.
A realidade é que a televisão é, agora, o Maracanã universal.
O nosso povo tem ódio ou raiva, sequer, de não poder estar ali, em massa. Um pouco de frustração, talvez, por não estar, aos gritos e paixões, transformando em feras esportivas os nossos jogadores, com a força do atavismo que Nélson Rodrigues definiu como o de se atirar à bola como quem se atira a um prato de comida.
Sérgio Porto, o Stanislau Ponte Preta, escreveu uma vez que não acredita em patriotismo do sujeito que só pensa em si. Nós temos uma elite que não tem fome, mas é “fominha”.
Por acaso algum deles recusou a oportunidade de estar ali com a lenga-lenga que, em lugar de Copa, poderiam ter feito uns 20 hospitais e uma centena de escolas, um nada neste país continental?
O povão não é recalcado, é sofrido. E sabe transformar este sofrimento em força e alegria.
Está se lixando para o Neymar ganhar uma fortuna, desde que jogue bola como um moleque feliz.
Triste, em tudo isso, é que aquela parcela da elite – ou uma parte dela, sejamos justos – não entende que são as imensas massas deste país que lhe permitem viver os privilégios que tem de estar ali – e também não há nada de errado em estarem – fruindo a delícia de viver este momento de congraçamento mundial.
Se podemos amar os holandeses, os croatas, os costarriquenhos, até os argentinos, porque não podemos amar os brasileiros pobres e dar a eles o mesmo carinho e atenção que damos à Torre de Babel que nos visita?
Por que é que tanta gente rica, ou bem remediada, odeia quem lhe deu a chance de estar ali, olhando de perto, pertinho, aquilo que bilhões só vêem por uma tela?
Será assim tão difícil entender que é o povo brasileiro quem lhe trouxe a Copa, assim como é o povo brasileiro quem produz a riqueza de que fruem e que sua miopia acha que brota do nada, apenas por sua “capacidade inata”?
Quem acha que este país é “tudo de ruim” não pode mesmo gostar dele o suficiente para entender que é da massa que vem a força de qualquer grupo seleto, não o contrário.
Inclusive a que empurra os onze em campo.
O que talvez explique 20% de chilenos terem, em alguns momentos, gritado mais que 80% de brasileiros.
E porque 80% dos brasileiros que têm muito pouco, ao contrário deles, sejam capazes de dar, dar, dar ao seu pais muito mais do que recebem dele.