Arquivo do mês: junho 2014

O TERRORISMO DA REVISTA VEJA.

A Revista Veja, ante ao insucesso da campanha anti-Copa, vira suas baterias agourentas para a inflação.

Diz que a inflação galopante traz riscos para o Plano Real, que completa 20 anos.

Não foi assim, quando quem governava o Brasil eram seus mais ferrenhos aliados financeiros.

Criado no governo de Itamar Franco, o Plano Real, sob a gerencia de Fernando Henrique Cardoso começou a fazer água, quando algumas correções deveriam ser feitas, e não o foram.

Fernando Henrique Cardoso anseava disputar a reeleição, comprou a emenda constitucional que permitia isso, com dinheiro vivo, mas para continuar com algum sucesso, manteve o Real com paridade com o dólar.

Daí, a inflação começou a subir. Para corrigi-la, os juros também foram elevados a patamares insuportaveis, chegando a 45% a.a.

Ao final de seu governo, com juros elevadissimos, a inflação já dava sinais de estar fora de controle.

Foi necessário a presença do cearense Ciro Gomes, que assumiu o Ministério da Fazenda em 06 de setembro de 1994, tomando medidas que paralisaram o crescimento da inflação.

Mesmo assim a inflação chegou ao final do governo de Fernando Henrique Cardoso, num patamar de 12,5%. Ainda muito longe do terror que a Revista Veja está começando a implantar no Brasil.

 

A REVISTA VEJA E O ESGOTO COM ÁGUA LIMPA.

Revista Veja foi uma das campeãs da campanha contra a Copa.
Chegou a fazer previsão de que o Brasil não iria ter copa porque os estádios só ficariam prontos em 2038.

Assim como a Veja, a Rede Globo, sorrateiramente, tentava destruir a Copa, com suas reportagens e opiniões de pessoas escolhidas a dedo para dar suas manifestações.

Artistas, escritores, ex-jogadores, todos profetizaram  contra o evento, antecipando seu fracasso. Cada um exponho suas opiniões, justificando para isso, a incompetencia do governo.

A razão de tudo era a desestabilização e quebra de confiança nas autoridades constituidas brasileira.

A Revista Veja, através de seu guru, Jornalista José Roberto Guzzo, membro do conselho editorial da Editora Abril e um dos responsáveis pela linha editorial de Veja, reconheceu e deu mão à palmatória. a Revista Veja errou. E errou feio:  "É bobagem tentar esconder ou inventar desculpas: muito melhor dizer logo de cara que a imprensa de alcance nacional pecou de novo, e pecou feio, ao prever durante meses seguidos que a Copa de 2014 ia ser um desastre sem limites. O Brasil, coitado, iria se envergonhar até o fim dos tempos com a exibição mundial da inépcia do governo", diz ele; "deu justamente o contrário", lamenta, antes de um conformado "é a vida";

Como se vê, o esgoto começou a receber água limpa.

O GRITO DOS PATRÕES.

Seria ótimo que parte daqueles que tanto reclamam de  muitas coisas nesse país, e que pouco contribuem na satisfação geral de milhões de brasileiros, dessem uma lida nesse artigo de Fernando Brito, do Blog Tijolaço.

Fernando Brito, ao contrário de que mitos pensam, não é um jornalista qualquer, publicando suas opiniões nos Blogs, que os donos de jornais condenam.

Na verdade, é tão ou mais jornalista que outros, que seguem ao pé da letra  as orientações emanadas dos patrões.

E Mino Carta já dizia: “alguns jornalistas são piores que o patrão”.

Jornalista blogueiro não tem patrão. Suas opiniões, seus escritos, são mais ou menos os que o levaram para o jornalismo: o livre pensar.

A postagem de Fernando Brito discorre sobre o público que está presente nos estádios, assistindo a Copa do Mundo.

Compare como é interessante o que eles cobravam e onde eles estão hoje, e a que ambiente frequentam.

Foram os mesmo que apuparam e escracharam a presidente de seu país, e nas horas vagas, fazem colagens de fotos e frases contra o governo e autoridades constituidas para postagens nos sites da internet.

Esquecem que o mundo ainda continua numa interminavel crise econômica, que começou em 2008 e não tem uma previsaõ para acabar. E o Brasil é um dos poucos países que mantém uma atividade econômica regular, com seu comercio interno ainda a todo vapor, aquecido pelos programas governamentais.

Os empresários ainda estão com superavit em seus negócios. Traduzindo: estão cada vez mais lucrando com eles. Ganhando dinheiro, muito dinheiro.

Quem fez coro e mandou nossa presidente tomar no c.. não foi nenhum Zé da Silva, não foi nenhum pedreiro, conhecido como Raimundo, ou um Ribamar da vida.

Eles estavam em casa, frente ao televisor, torcendo, vibrando com a expectativa de sucesso de nossa seleção.

No estádio, em coro, gritando a plenos pulmões, em camarotes vips, estavam uma parcela de seus patrões, aqueles que ainda estão ganhando dinheiro, muito dinheiro, com seus filhos, suas sobrinhas e seus amigos…

Leiam a boa postagem de Fernando Brito, de seu Blog Tijolaço.

Estádio de Copa é de elite. Mas nossa elite é capaz de entender a quem deve ser o que é?

29 de junho de 2014 | 10:45 Autor: Fernando Brito

torcida

A enquete realizada pela Folha, ontem, e publicada na edição de hoje do jornal, faz um retrato do que significa o tal “padrão Fifa”.

Ou do que tem sido o mundo.

Tudo é ótimo, fantástico, maravilhoso, sensacional.

Para poucos.

renda

Os 60 por cento com renda superior a dez salários mínimos no estádio são apenas 3% dos brasileiros na “vida real”.  Quase a metade deles, os que ganham acima de 20 salários-mínimos, não chegam a 1% dos brasileiros. Os números estão ao lado, se você duvidar.

Os negros, mulatos, os pardos só são maioria, entre os de camisa amarela, dentro das quatro linhas.

Nada mais do improviso, das arquibancadas de concreto, da multidão se espremendo numa festa de gritos e suores, nem do picolé que vinha rolando de mão em mão degraus acima ou abaixo, enquanto os trocados seguiam o caminho inverso (quando não era o pobre do sorveteiro quem vinha junto) daquele Mineirão de 150 mil lugares ou do Maracanã de 200 mil almas em transe.

Por maior que seja a saudade daqueles tempos que eu ainda tive a sorte de viver, o Brasil tornou-se uma sociedade de massas gigantescas e seria simples banzo pretender que tudo fosse como era.

Até porque aquele “Maracanã” inclusivo era mais uma atitude mental do que real,  porque o Brasil era, muito menos que hoje, um país de pouca ou nenhuma oportunidade para a imensa maioria, ainda que muitos tenham conseguido ascender nos anos 40 e 50, embora se tenham tomado, em 64, as devidas providências contra a petulância da patuleia de querer ter parte do seu país, mesmo na antiga geral.

A realidade é que a televisão é, agora, o Maracanã universal.

O nosso povo tem ódio ou raiva, sequer, de não poder estar ali, em massa. Um pouco de frustração, talvez, por não estar, aos gritos e paixões, transformando em feras esportivas os nossos jogadores, com a força do atavismo que Nélson Rodrigues definiu como o de se atirar à bola como quem se atira a um prato de comida.

Sérgio Porto, o Stanislau Ponte Preta, escreveu uma vez que não acredita em patriotismo do sujeito que só pensa em si. Nós temos uma elite que não tem fome, mas é “fominha”.

Por acaso algum deles recusou a oportunidade de estar ali com a lenga-lenga que, em lugar de Copa, poderiam ter feito uns 20 hospitais e uma centena de escolas, um nada neste país continental?

O povão não é recalcado, é sofrido.  E sabe transformar este sofrimento em força e alegria.

Está se lixando para o Neymar ganhar uma fortuna, desde que jogue bola como um moleque feliz.

Triste, em tudo isso, é que aquela parcela da elite – ou uma parte dela, sejamos justos – não entende que são as imensas massas deste país que lhe permitem viver os privilégios que tem de estar ali – e também não há nada de errado em estarem – fruindo a delícia de viver este momento de congraçamento mundial.

Se podemos amar os holandeses, os croatas, os costarriquenhos, até os argentinos, porque não podemos amar os brasileiros pobres e dar a eles o mesmo carinho e atenção que damos à Torre de Babel que nos visita?

Por que é que tanta gente rica, ou bem remediada, odeia quem lhe deu a chance de estar ali, olhando de perto, pertinho, aquilo que bilhões só vêem por uma tela?

Será assim tão difícil entender que é o povo brasileiro quem lhe trouxe a Copa, assim como é o povo brasileiro quem produz a riqueza de que fruem e que sua miopia acha que brota do nada, apenas por sua “capacidade inata”?

Quem acha que este país é “tudo de ruim” não pode mesmo gostar dele o suficiente para entender que é da massa que vem a força de qualquer grupo seleto, não o contrário.

Inclusive a que empurra os onze em campo.

O que talvez explique 20% de chilenos terem, em alguns momentos, gritado mais que 80% de brasileiros.

E porque 80% dos brasileiros que têm muito pouco, ao contrário deles, sejam capazes de dar, dar, dar ao seu pais muito mais do que recebem dele.

A BABOSEIRA DOS NEOLIBERAIS SOBRE A RENÚNCIA DE IMPOSTOS DA FIFA.

O pensamento da direita brasileira está nos noticiários televisivos em forma de editoriais, ou já vem escrito nos jornais e revistas,   que a servem. Daí prá frente, os neófitos ou seguidores, só replicam.

E de olhos fechados!

Muitos nem se dão ao trabalho de fazer uma pesquisa para saber se aquilo que vão compartilhar, tem ou não um fundo de verdade; ou para comparar se há ou não vantagem na decisão que o atual governo tomou, em relação ao que tinha sido feito antes.

Veja-se o caso da renúncia de impostos para a FIFA.

É emblemático.

Discute-se o porquê do governo ter renunciado R$ 1,1 bilhões de reais em impostos para a FIFA, mas não se faz um exame comparativo do que o país vai lucrar com o evento.

Nem se vai atrás de outras renúncias de impostos, que nenhum benefício adveio para o país, realizado por outros governantes em períodos recentes.

O governo Itamar Franco, quando criou o Plano Real, seus economistas reforçaram a idéia de que o plano necessitaria de correções. O governo que se seguiu, o de Fernando Henrique Cardoso, segurou essas correções para manter a paridade do Real com o dólar, a nível internacional. E para que isso ocorresse, muitas irregularidades foram praticadas. Dentre elas, a Lei 9.249 de dezembro de 1995, que trata,dentre outras coisas, da renúncia de impostos.

A diferença entre a renúncia de impostos dos dois governos, e as entidades que gozaram dessas renúncias é escandalosa. E mais ainda, os benefícios gerados como contrapartida.

Se a contrapartida da Renúncia Fiscal da Fifa está produzindo impactos socioeconômico de grande monta, conforme ficou demonstrado no estudo de dois economistas da Fundação Getúlio Vargas, Fernando Blumenschein e Diego Navarro: Impactos socioeconômicos da Copa do Mundo Fifa 2014 e seu legado para o futebol brasileiro – Vol 22 Nº 2 out/NoV/dez 2013, acessível neste endereço: http://fgvprojetos.fgv.br/sites/fgvprojetos.fgv.br/files/arquivos/artigo

_legado_copa2014_fernandoblumenscheindiegonavarro.pdf, as renúncias fiscais dos neoliberais ainda hoje causam prejuizos aos cofres brasileiros.

Para se ter uma idéia, nos últimos 11 anos foram investidos no Brasil, por empresas estrangeira, cerca de U$ 720 bilhões e remetidos para fora um montante de U$ 240 bilhões, sem que um centavo de real fosse gerado de impostos, graças à Lei 9.249,de 1995, criada pelos tucanos,  que isenta as remessas de dinheiro para o exterior, do pagamentos de impostos.

É, ainda, da lavra tucana a inversão da função do imposto no Brasil.

Quem reclama que paga muito imposto sobre a renda, não  lembra que até 1996, quem ganhava até 10,48 SM não pagava imposto de renda, hoje, essa isenção só atinge a quem ganha até 3,46 SM.

O mais lamentavel é que a grita sobre as isenções da Fifa,vem, exatamente daqueles que hoje se consagram como eleitores dos tucanos.

E fazem uma baboseira sobre essa renúncia, sem levar em consideração os impactos que se gera no país com o evento.

 

A NOVA GENÍ E O ÂNUS DA ELITE BRASILEIRA

As agressões à Presidente da República, com palavrões impublicáveis, partiram da ala VIP do estádio Itaquerão, onde o país dava o ponta pé para o inicio da Copa do Mundo e a seleção brasileira iniciava a caminhada para o hexa.

Ou mais precisamente, no camarote VIP do Banco Itaú, onde lá estava uma colunista social do Jornal O Estado de São Paulo – O Estadão, que disputava com outros convidados VIP’s, quem gritava mais alto os palavrões contra nossa maior autoridade constituída, e ela, com certeza, nunca diria nem teria coragem de proferir contra a mãe dela, dentro e fora de sua casa.

Quando os endinheirados do Itaquerão iniciaram as ofensas contra a mulher Dilma, Presidente da República, não atingiram somente a ela.

Suas ofensas vergaram a cabeça de mais de 60 milhões de brasileiros, que elegeram aquela mulher sua presidente, e que envergonhados com tanta crueldade, tanta violência contra um ser humano, e acima de mulher, acabaram extasiados com o que presenciaram dos sofás de seus lares, diante da televisão e de suas famílias.

Naquele instante de desconforto moral que uma classe social – a elite brasileira, produzia; que a televisão transmitia,  o país assistia e o mundo testemunhava, nossos ricos cidadãos acabavam de eleger, no contra ponto de suas ideologias,  uma nova Gení.

Contra essa guerreira mulher, a elite brasileira jogou todo seu excremento ideológico.

Jogaram bosta na Gení.

Não sem antes ocorrer uma mutação anatômica em seus corpos. Para jogar bosta na Gení, transformaram suas bocas em ânus.

A elite transformou sua boca em cu.

Martins Andrade
Republico abaixo,  para os amigos do Blog Martins Andrade e Você, o artigo da Jornalista Laura Capriglione, publicado em seu Blog.
 
 
 

Laura Capriglione

É esta gente sem educação que quer assumir o poder?

Por | Laura Capriglione22 horas atrás

Bar do Grappite, na favela do Moinho; sem vandalismo

“Isso, se a senhora me permite, eu não admito”, protestou o ajudante de pedreiro Afonso de Medeiros, 48 anos, negro, evangélico, ex-dependente químico, morador na Favela do Moinho, centro de São Paulo. O homem se referia aos xingamentos contra a presidente Dilma Rousseff, durante o jogo de abertura da Copa do Mundo, no estádio de Itaquera.

“Ei, Dilma! Vai tomar no cu.”

O grito nasceu na ala vip e tomou a Arena Corinthians. Entre os mais entusiasmados estava a colunista social do jornal “O Estado de S.Paulo", que deve ter achado muito fina, elegante e sincera a modalidade de protesto. Mas é isso que é a gente que diz que quer tomar o poder?

“Isso não se faz com uma mulher, nunca”, disse o pedreiro Medeiros, que assistia ao jogo em pé, diante da televisão instalada no Bar do Grappite, logo na entrada da favela. “É covardia.”

E olha que a favela do Moinho era no dia do jogo um reduto de manifestantes anti-Copa. Os “vândalos” que denunciaram os gastos excessivos com a construção de estádios escolheram a favela para assistir juntos ao jogo. Democraticamente, dividiram com torcedores fanáticos de Neymar, Fred e Oscar o chão de terra batida do Moinho (chama-se assim porque ali funcionou um antigo moinho das Indústrias Matarazzo).

Os anti-Copa, entretanto, não chegavam aos pés dos vips do estádio de Itaquera no quesito vandalismo verbal. Um garoto vestido com a camisa da Croácia, por exemplo, comemorou o gol adversário com uma adaptação do bordão “Não vai ter Copa”. Virou “Não vai ter hexa!” Foi abraçado entusiasticamente pelos demais e ficou nisso.

“Eu sou feminista, véi. Comigo não tem essa de xingar mulher, mesmo que ela seja a presidente! A gente já é xingada demais na vida: de puta, baranga, gorda, sapatona, malcomida, burra”, explicou uma ativista que havia participado de protestos naquela tarde.

Dilma sabia que ia pro sacrifício. Quem tem dinheiro para comprar os cobiçados ingressos Fifa não é o brasileiro que costuma frequentar estádio (na porta, cambistas ofereciam os últimos tickets por até R$ 2.000).

São os mesmos endinheirados que passaram os últimos anos dizendo que o estádio não sairia. Saiu.

Que não haveria aeroportos pros gringos aterrissarem. Houve.

O jornal da colunista até publicou que haveria ataques do PCC na abertura. E necas.

Eles têm de estar revoltados mesmo: muita contrariedade. O PT fundiu-lhes a cabeça.

O jeito foi extravasar nos moldes odientos consagrados pelas redes sociais.

“Ei, Dilma! Vai tomar no cu.”

Há quem ache que o presidenciável Aécio Neves deve usar o linchamento verbal contra Dilma em seu horário eleitoral gratuito. Sabe de nada, inocente!

Experimenta pôr a grosseria na campanha… Porque vaiar, tudo bem. Mas xingar assim é falta de educação demais, coisa de mal-agradecido traíra. E isso não se perdoa.

Os marqueteiros tucanos têm de ensinar ao seu eleitorado um pouco mais de polidez. Nem que seja para aparecer na TV.

O LADO HUMANO DAS ESQUERDAS NO MUNDO

Republico para os amigos do Blog Martins Andrade e Você, o editorial do Le Monde Diplomatique Brasil.
O foco é o lado humano das esquerdas, hoje, no mundo. 

EDITORIAL  

A esquerda e a democracia
Cladius
por Silvio Caccia Bava

Para muitos, a divisão política entre direita e esquerda soa hoje como um anacronismo. Essa divisão não é uma coisa do passado que está superada? Falar de direita e esquerda no século XXI, com a revolução nas tecnologias, as profundas transformações nas classes trabalhadoras e nas relações de poder, com a internet convocando mobilizações, não é saudosismo? A resposta é não. Enquanto o capitalismo produzir e aumentar em nossas sociedades a desigualdade social, ampliar o fosso entre ricos e pobres, colocar na miséria um contingente crescente de trabalhadores, é preciso enfrentar esse modelo de produção e organização social que assume, em sua última forma, o nome de neoliberal. É o que defendem, por exemplo, os movimentos Occupy, nos Estados Unidos, quando contrapõem os interesses dos 99% da população aos do 1% mais rico.

A diferença básica é o que se faz com a riqueza produzida. O neoliberalismo mobiliza a sociedade e seus recursos para aumentar o lucro das empresas, especialmente das transnacionais, não importa o custo social. A esquerda quer que essa riqueza se transforme em bem-estar para toda a sociedade e busca justiça social.

Segundo a pesquisa Datafolha, de dezembro de 2013, sobre o perfil ideológico dos brasileiros, 41% se identificam como sendo de esquerda ou centro-esquerda e 39% se identificam como sendo de direita ou centro-direita. Tanto as perguntas quanto as respostas tornam claro que essa é uma questão viva. Evidentemente, os 39% de direita não são, em sua grande maioria, capitalistas, mas pessoas que se convenceram do discurso da direita e assumem seus valores e expectativas. Sua maior concentração é nas camadas mais pobres e menos escolarizadas da sociedade.

Para não ficarmos nos estereótipos, criados pela ideologia conservadora para desqualificar qualquer possibilidade de transformação social e oposição ao capitalismo, precisamos aprofundar nosso entendimento sobre os significados dessa divisão entre direita e esquerda.

O ponto de partida é histórico. Assim como em outros momentos, a esquerda já foi contra o fascismo, já defendeu o Estado de bem-estar social e o nacionalismo; na atualidade, a esquerda se opõe às políticas neoliberais. Essas políticas querem a eliminação de direitos e benefícios sociais e trabalhistas conquistados e a destruição de políticas públicas garantidoras desses direitos. Sem esses gastos, os capitalistas aumentam sua margem de lucro.

A esquerda, em seus vários matizes, está de acordo sobre questões essenciais: defender direitos, benefícios e garantias sociais e trabalhistas que foram conquistas com muita luta e sacrifício e se veem ameaçadas pelas políticas neoliberais. A esquerda vai muito além disso, propondo políticas públicas universais e de qualidade, lutando para que elas se transformem em bens públicos comuns, isto é, bens disponíveis para todos, gratuitos, custeados pelos impostos de todos, e não pagos pelos usuários. Moradia, luz, gás, água, transportes públicos, educação, saúde, coleta do lixo, equipamentos de esportes são serviços de responsabilidade do Estado que podem se converter em bens públicos comuns.

Ser de esquerda é propor a sustentabilidade ambiental, a diversidade cultural, a igualdade entre raças e gêneros, a segurança alimentar, uma nova política para drogas e aborto. É ser um cidadão ativo pela paz, com liberdade e justiça.

Ser de esquerda é desvendar os mecanismos de exploração e opressão e debatê-los publicamente, enfrentar as políticas geradoras da desigualdade social, como a política tributária ou a fixação da taxa Selic, e propor a inclusão social e política dos mais pobres, garantindo concretamente direitos para todos.

Desde os anos 1970, a esquerda no Brasil vive uma transformação profunda e substitui a ideia de revolução pela defesa de uma democracia com igualdade e a justiça social. A descentralização e o controle social das políticas públicas e a participação cidadã na gestão pública são elementos centrais do novo projeto.

E por que a democracia é essencial? Porque são as pressões e mobilizações sociais que estendem os direitos sociais e políticos para quem não os tinha e ampliam sua cobertura a todos. A democracia serve para tornar universais direitos que antes eram restritos a poucos.

Silvio Caccia Bava

Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil